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Date: 10 Jun 2000
Media: Jornal do Brasil - Caderno B
Jornalista: Gilberto de Abreu

Um mirante sobre o Rio

Monumental exposição no MAM reúne memória e tecnologia para mostrar a paisagem carioca como inspiração de artistas e intelectuais

     

O Rio de Janeiro empresta há 500 anos sua beleza natural para pintores viajantes, escritores, cineastas, dramaturgos, músicos, artistas plásticos e designers. Agora, chegou a hora de garimpar, reunir, catalogar e exibir - através de objetos museológicos, reconstituições cenográficas e instalações multimídia - parte desse monumental acervo. No embalo das comemorações pelos 500 anos do descobrimento do Brasil, a Prefeitura do Rio apostou em contar essa história do ponto de vista da cidade, no evento A paisagem carioca, que engloba exposições, oficinas de criação, visitas guiadas e um ciclo de palestras para quem se interessa por cultura, do cinema ao teatro, passando pelas artes visuais, música, dança e literatura.

Em meio a tantas atrações, o centro das atenções é mesmo a mostra A paisagem carioca, que ocupa enorme salão do Museu de Arte Moderna, a partir 9 de agosto, reunindo mais de 700 objetos museográficos e cerca de 100 imagens históricas do Rio de Janeiro e sua paisagem. A exposição, que tem curadoria do historiador de arte Carlos Martins, reúne leques chineses, vasos Gallé, bandejas confeccionadas com asas de Borboleta, entalhes em caixas de madeira, cartazes, cartões postais, rótulos etc.

Além de enfocar parte da história brasileira, a exposição reverencia a imprescindível colaboração da paisagem carioca para a construção de uma memória nacional.

A idéia central do projeto, segundo o curador geral, é "possibilitar" uma reflexão sobre as transformações da paisagem carioca, a construção de uma própria imagem e a exaltação dos cenários que ajudam a vender a imagem do Brasil dentro e fora do país".


A enseada de Botafogo aparece na pintura em azulejo da Antuérpia, cedida pelo colecionador Paulo Sandi


O Outeiro da Glória num óleo sobre a tela da coleção Brasiliana, do acervo da Fundação Herwlet Packard
 
 

A viagem rumo ao redescobrimento do Rio de Janeiro passa pelas anotações de bordo dos viajantes europeus, transformadas em livros já no século 16. Dezoito desses exemplares poderão ser vistos no segmento Escritas de viagem: girar sobre os próprios passos. O espectador aficionado por mapas cartográficos, desenhos e gravuras de viajantes não tem do que se queixar, uma vez que o módulo A construção da imagem da Baía de Guanabara, curado por Anna Maria Monteiro de Carvalho, traz dezenas de itens como esses.

Em ícones na paisagem do Rio de Janeiro, assinado por Maria Pace Chiavari, ganham destaque alguns cartões postais da cidade - Corcovado. Pão de Açúcar, Outeiro da Glória, Lapa - exaltados em cinco telões distintos, em loop infinito e projeção simultânea. "São pontos de referência não só para o Brasil como para todo o mundo."A multimídia vai estar presente em todos os módulos da mostra, graças à colaboração do videomaker Marcelo Dantas, que vai dar suporte eletrônico a cada um dos segmentos. Criei uma espécie de instalação em cada módulo para interpretar o desenvolvimento espacial da paisagem carioca nas mais diversas áreas", adianta ele.

Um dos módulos mais ricos da exposição será o intitulado A paisagem aplicada. Nele, o curador Carlos Martins reúne desde relíquias de mobiliário a objetos utilitários, disponibilizando ainda uma série de itens contemporâneos, que evidenciam até mesmo a banalização da cena carioca. "Conseguimos de verdadeiras relíquias a curiosas peças de suvenir. Temos até um peso de papel com a imagem do Cristo Redentor, no qual é possível ver a neve caindo sobre ele", ilustra Martins, com certa ironia no discurso.

Para compor o módulo A imagem, a miragem, o engano: a dramaturgia da cidade, a curadora Silvia Kutchma mergulhou na história do teatro carioca para reerguer maquetes de cenários de peças de autores como Arthur Azevedo, Jõao do Rio, Oswald de Andrade, OduvaldoViana Filho, Jõao Bithencourt, entre outros. "Acabei descobrindo que a construção do teatro brasileiro e da imagem carioca no teatro caminham juntas e são muito difusas até hoje", diz a curadora, cuja pesquisa levantou ainda a maquete original de O rei da vela, projetada por Helio Eichbauer em 1968.

Os segmentos dedicados à literatura e ao cinema convivem lado a lado com o teatro em A paisagem carioca. Convidado para assinar a curadoria do módulo Cenários do Rio no cinema, Tunico Amacia pesquisou na produção internacional todos os filmes que apresentam o Rio como locação. "A imagem da cidade se transforma nesses últimos 60 anos e o cinema acompanha as mudanças."

Dentre os filmes selecionados por Tunico Amancia, constam Voando para o Rio, de Thornton Freeland, O boca, Orquídea Selvagem, Interlúdio, Estranha passageira e O prisioneiro do Rio, Filme da década de 80 sobre o ladrão inglês Ronald Biggs, entre outros, num total de 15 filmes, com um minuto de duração cada um. Para mapear a produção nacional, Amancia teve como colaborador o pesquisador Hernani Helffner, responsável pelo mesmo na produção nacional.

 

Livro virtual e binóculo mágico

Além de evocar o passado, A paisagem carioca acena para o futuro. Oferecendo ao espectador a possibilidade de interagir com as peças em exposição, a mostra vai conter duas videoinstalações. Numa delas, o espectador/leitor vai poder ver/ler a obra de Machado de Assis nas páginas de um livro virtual. E na outra, ver a paisagem da cidade através de um binóculo, como se estivesse num mirante debruçado sobre ela.

O livro virtual foi uma sugestão do videomaker Marcelo Dantas, que com ele dá suporte ao módulo dedicado à literatura. "Queremos mexer com a memória afetiva dos espectadores ao mesmo tempo em que damos a ele a possibilidade de descobrir algo novo", diz Dantas.

Batizado de Visorama, o binóculo virtual leva a assinatura de André Parente, que concebeu uma engenhoca capaz de reproduzir a paisagem carioca sem, necessariamente, tê-la pela frente. "A sensação é impressionante", diz o curador geral Carlos Martins. "Você põe o binóculo e olha para um lado e para o outro, para cima e para baixo, e tem a sensação de estar diante do Rio de Janeiro", comenta Martins, com entusiasmo quase juvenil.

Quem defende a interatividade como nos velhos tempos vai ter a seu dispor um cenário teatral no qual será possível (re)criar a paisagem carioca de acordo com a imaginação. "Pegamos emprestados alguns recursos cênicos para criar um ambiente no qual os visitantes possam inclusive fazer fotografias de recordação", sugere Carlos Martins.

 

Imagens panorâmicas da cidade

"Cada casa, cada apartamento, cada escritório do Rio tem sua paisagem particular. Quem de nós já não desejou olhar a cidade daquela varanda ou daquela janela?", indaga o prefeito do Rio Luiz Paulo Conde, no texto de apresentação da mostra Paisagens particulares, aberta ao público carioca desde quarta-feira no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Evocando as belezas naturais da cidade, os irmãos Felipe e Tom Aborda apresentam uma série de fomontagens panorâmicas da cidade, produzidas a partir de fotografias tiradas de pontos privilegiados, ou mesmo inusitados, do Rio. Tom Taborda, autor das fotos e das fotomontagens, conta que a idéia de fotografar a cidade surgiu em 1999, quando procurava um bom apartamento para curtir em família a virada do ano.


Fotomontagem da Praia de Copacabana, a partir de fotografia tirada do alto de um edifício na Rua FranciscoOtaviano
 

"Quando isso evolui para a idéia de uma exposição, começamos a lembrar outras janelas e paisagens que os moradores vislumbram delas", diz o fotógrafo, que reuniu panorâmicas do Aterro do Flamengo, da Enseada de Botafogo, de esquinas famosas de Copacabana, de viadutos nervosos. Para realizar cada uma dessas imagens, Tom Taborda teve de convencer o proprietário da janela ou da varanda a ceder o local para a execução da foto.

Responsável pela concepção e direção de arte da mostra, Felipe Taborda dispôs as imagens do irmão em painéis circulares de três metros de comprimento por um metro de altura. "Com essas dimensões, é possível ter uma noção aproximada da vista real que temos de cada janela", comenta Felipe. No verso de cada painel, textos do arquiteto Alfredo Britto revelam os detalhes da construção dos prédios e das paisagens que se vêem deles.


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