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SOLILÓQUIO – o Boneco

[plano geral]

(anda até o centro)

[plano proximo]

Às vezes eu olho pra mim e penso que nunca que vou embora. (olha para baixo)

[plano medio]

— “Magina! Uma desfaçatez dessa, me disse aquela senhora?!
Mas tem dia que eu olho longe, sonhando lá fora. (aponta para o lado)

[plano aberto – seguindo]

Quando em vez me vejo indo. (anda livre por várias paisagens) *
Quando em vez me vejo voltando (volta ao fundo branco, grades de limitação VR) *
Quando em vez me vejo morrendo sem nunca saber a diferença entre o indo e o voltando. (brincar com os limites de programação e VR) *

[plano geral]

Me vejo saltando que nem gente, sabe? Pra lá e pra cá? (salta, imagina)
Me vejo caindo firme e em pé do outro lado, como se nunca tivesse voado. (cai, levanta)

[plano proximo]

Às vezes é tanto. (olhando para o público)
Às vezes é pouco.
Às vezes dói, o pranto.

[plano medio]

Já pensou a dor que deve ser arrancar essas raízes todas que têm aqui?
(imagina as grades do VR se quebrando e ele livre) *
Quando em vez eu penso na dor.
E nas feridas de desgarrar o que não nasceu pra ser tirado.
Será que eu ia sentir falta desse cenário?
É que… já me acostumei com o cheiro do virtual programado.

[plano proximo]

Mas sabe o que mais penso? Será que esse cenário vai sentir falta da minha robustez e da sagacidade com que eu me encaixo?

[plano medio]

A gente sabe que não. Se tem uma coisa que não sente falta é cenário, nem palco. Tudo cabe, tudo preenche; bicho, flor, semente…

[plano proximo]

— Com isso, nem se apoquente!
É que me dá uma leveza me imaginar voando…
Mesmo eu, que sou boneco.